Prefácio
Quando foi lançado, em 1994, O Netscape Navigator, graças a seus próprios méritos, em apenas quatro meses se tornou o navegador-Web mais utilizado, tendo abocanhado três quartos do marketshare desses programas. Além da maiores estabilidade e velocidade de navegação, o Nestcape fornecia uma experiência consistente entre os diversos sistemas operacionais para os quais foi compilado.
Em 1995, a Microsoft lançou o Internet Explorer 1 e, dois meses depois, sua segunda versão, que podia ser adicionado ao Windows por meio de um patch de atualização chamado Internet Jumpstart Kit, que fazia parte do pacote Microsoft Plus!. Já no início de 1996, o Internet Explorer 2 foi incluído por padrão nas instalações OEM do Windows, mas foi o lançamento do Internet Explorer 3, em julho de 1996, que começou a afetar de fato o mercado dos navegadores, aumentando a fatia da Microsoft de 3% a 9% no início daquele ano para 20% a 30% no final de 1997. Em 1998 ele passaria a ser distribuído embarcado nas versões comerciais do Windows, dispensando a necessidade de updates ou patches.
Foi o período da Guerra dos Navegadores, e o fato do Internet Explorer vir integrado gratuitamente no sistema operacional, enquanto o Netscape Navigator, que ainda não era gratuito para o público em geral, precisava ser efetivamente baixado da Internet para, então ser instalado (operação que demandava o uso do programa da Microsoft, diga-se), o jogo seguiu virando em favor da empresa de Redmond.
Interlúdio
Em 1997, o engenheiro de software Eric S. Raymond publicou o artigo The Cathedral and The Bazaar, no qual compara dois métodos de desenvolvimento de programas livres, o método top-down, altamente hierárquico e característico do desenvolvimento canônico de programas de computador, utilizado por Richard Stallman no Projeto GNU, que ele chamou de Catedral, e o método bottom-up, quase não hierarquizado e aberto, introduzido por Linus Torvalds para o desenvolvimento do kernel Linux e amplamente adotado pela comunidade desenvolvedora de programas livres, que ele chamou de Bazar.
Acostumado aos métodos tradicionais de desenvolvimento, Raymond era cético quanto à possibilidade de sucesso do método Bazar, e não apenas estudou o caso Linux, como experimentou a metodologia em um pequeno projeto aberto chamado Fetchmail. No ano seguinte, o artigo seria incorporado a um livro de mesmo nome, no qual Raymond cunha o que ele chamou de Lei de Linus, pela qual propõe que: “dado um número suficiente de olhos, qualquer bug pode ser detectado e corrigido”.
Trata-se, ao fim e ao cabo, de um reconhecimento das vantagens do crowdsourcing no desenvolvimento de softwares, métodos que se expandiria para outras áreas da economia.
No início de 1998, um membro do conselho gestor da Netscape Communications Corporation, supostamente Jamie Zawinski, cofundador da empresa e entusiasta do Software Livre, teve acesso ao artigo de Raymond e o distribuiu aos demais membros do conselho, utilizando-o para convencê-los das vantagens de se abrir o código do navegador e entregá-lo à comunidade.
Em fevereiro de 1998, então, a o código do Netscape foi aberto e a Mozilla Organization, posteriormente Mozilla Foundation (2003), foi criada com a missão de coordenar os esforços para o desenvolvimento do Navegador Web Mozilla Firefox, a versão livre do Netscape.
A licença utilizada ao disponibilizar o fonte foi a Netscape Public License que, baseada na GNU General Public License, garantia à Netscape o direito de continuar publicando software proprietário a partir do código-fonte aberto do Mozilla Firefox, o que seria impossível se tivessem adotado a GNU GPL.
Epílogo
Ao abrir o código, a comunidade Software Livre, entusiasta do Netscape, o abraçou e se pôs a contribuir com seu desenvolvimento.
A abertura do código, e seu desenvolvimento aberto, foi o que garantiu ao Netscape, que seguiu incorporando o código gerado para o Firefox, sua sobrevida até 2007, quando finalmente foi descontinuado.
O caso Mozilla Firefox é um exemplo, não apenas das vantagens da metodologia Bazar, curva de desenvolvimento mais acentuada, maior eficiência, estabilidade e segurança do código, com redução drástica do custo de desenvolvimento, mas das vantagens de sua adoção por empresas desenvolvedoras de software, contrariando o senso comum de que é o código proprietário, fechado e inacessível aos olhos curiosos, em programas distribuídos com licenças draconianas, a forma ideal de se remunerar, apontando para a possibilidade de mudança do paradigma da monetização como fruto da comercialização de licenças de uso.
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